É cómica, demasiado cómica, toda a azáfama em redor das condecorações. Os mais distraídos ainda não perceberam que essas condecorações são uma estratégia de, directa ou indirectamente, obrigar os condecorados a prestar vassalagem ao imperador-rei-presidente-soba do partido no poder.
Por Domingos Kambunji
O mais cómico é observar o imperador-rei-presidente-soba do partido no poder homenagear alguém que desmascarou e combateu a corrupção no nosso país. Os menos atentos esquecem-se que o imperador-rei-presidente-soba do partido no poder foi um dos grandes beneficiários da corrupção descarada, no período que designaram de acumulação primária de riqueza e nós denominamos de roubalheira geral, e agora apresenta-se como o sua excelência o senhor de todas as virtudes.
Um dos “Zés das Medalhas” não se cansa de postar nas redes sociais a medalha de latão com que foi homenageado. Então não é que o imperador-rei-presidente-soba do partido no poder criticou muito recentemente as redes sociais, aconselhando os jovens a munirem-se de “metralhadoras, morteiros e migs” para combaterem esse “perigo para a humanidade” que proporciona a liberdade de informação e não é obrigado a fazer vénias aos ditadores imperadores-reis da demagogia?
Um dos “Zés das Medalhas”, dando numa de intelectual, diz que lá em casa, no tempo do antigamente, tinha muitos livros e até tinha romances do Jorge Amado. Será que, nas suas leituras, conseguiu entender a essência das críticas sociais e políticas do Jorge Amado? Ele sabe quem é a figura do “Zé das Medalhas” na literatura do Jorge Amado? É exactamente o mesmo tipo de pessoa que agora vai ao Palácio Presidencial receber medalhas de latão e depois vem pavonear o narcisismo matumbo nas redes sociais. Quem não entende a linguagem literária é melhor dedicar-se ao estatuto de espectador de telenovelas, bem instalado num sofá de veludo.
O escritor José Carlos Barros, num dos seus contos, ficcionou a história de um general que, quando soube que se estava a instalar uma revolução na capital do país, deu ordem para que os seus soldados disparassem em sentido contrário.
Na Re(i)pública da Angola do MPLA aconteceu exactamente a mesma coisa. O general deu uma “ordem superior” ao “soba das forças armadas em militares” para entrarem em “prontidão combativa elevada” com o objectivo de prevenir os ataques dos que promoveram o chefe ao posto de general e para garantir a segurança de todos os seus bens, adquiridos durante o período da “acumulação primária de riqueza”. Não consta que o general tenha distribuído a sua riqueza pelos 20 milhões de pobres nem tenha declarado todos os seus bens acumulados durante o período da “roubalheira geral”.
Os “Zés das Medalhas”, que tanto se manifestaram contra a corrupção, agora sofrem de amnésia e esqueceram-se de investigar como é que o general conseguiu enriquecer tanto, num país atrasado e com 20 milhões de pobres. Não foi certamente com o salário de general!
Se tudo decorrer como o previsto, quando o imperador-rei-presidente-soba do partido no poder exonerar os actuais ministros e governadores provinciais, irá nomear para esses cargos os “Zés das Medalhas”. Os “Zés das Medalhas” prometerão disparar as suas armas no sentido que mais proteger a continuidade no poder do imperador-rei-presidente-soba do partido, que muda de ideologia política e de paradigma quase todas as semanas.
O imperador-rei-presidente-soba do partido no poder disse que o seu antecessor deixou os cofres do Estado vazios? Mas deixou o caixote das medalhas cheio, o que dará para distribuir condecorações durante os próximos cinco séculos!
o beto não entendeu patavina…
Zé das Medalhas não é um personagem de qualquer romance de Jorge Amado como o autor do texto afirma. É um personagem da telenovela Roque Santeiro escrita com base numa peça teatral do dramaturgo Dias Gomes censurada durante a ditadura brasileira.